Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais

Diminuindo riscos, gerando certezas!



WAL-MART

O Wal-Mart é hoje a maior e mais influente empresa do mundo, levando-se em conta o faturamento. O desenvolvimento deste conglomerado americano foi espantoso. Após um início tímido como uma rede de supermercados interiorana, Sam Walton, fundador da rede, construiu algo que dificilmente podemos imaginar ser possível no presente. Walton era o típico empreendedor: começou do zero e cometeu uma série de erros, porém manteve-se fiel ao sonho de construir uma grande empresa. Sua genialidade – centro da fórmula de sucesso do Wal-Mart – residia numa idéia aparentemente simplória: compre barato, venda barato, mantenha as prateleiras bem sortidas, trate os clientes com respeito, valorize seus colaboradores e preste muita atenção aos acertos da concorrência. Isso se tornou uma espécie de dogma da companhia. O Wal-Mart é mais que um empreendimento. É quase uma religião, cujo princípio fundamental é lucrar muito e sempre.

No mundo corporativo, a história da Wal-Mart é incomparável. Já na época de estudante, Sam Walton foi eleito o rapaz mais versátil e tornou-se presidente do corpo de estudantes. Formou-se em economia no ano de 1940. A primeira experiência profissional de Sam aconteceu como trainee numa loja em Oklahoma, conhecida como DuPont. Nessa época Sam conheceu sua futura esposa: Helen Robson. Foi a partir desse momento que começou sua carreira de comerciante, trabalhando durante 18 meses, até os Estados Unidos entrarem na guerra. Ao ingressar para o exército tinha certeza de duas coisas: sabia que se casaria com Helen e que trabalharia no varejo para ganhar a vida. Ao comentar sobre o seu começo humilde, Sam declarou sua paixão pelo mundo das vendas: "Não comecei como banqueiro, ou como investidor ou fazendo alguma coisa que não fosse atender os clientes. Muitos dos dirigentes de grandes companhias jamais abriram uma caixa registradora, nem atenderam clientes. Por isso sempre valorizei a figura do vendedor e sei como uma pessoa de vendas pode influenciar um cliente numa relação comercial."

Em 1945, após a guerra, decidiu ter seu próprio negócio. No dia 1º de setembro daquele ano inaugurou sua loja de franquia da cadeia Ben-Franklin, especializada em miudezas, em Arkansas. O casal Walton transformou a loja, que operava com prejuízos, em uma das maiores unidades da rede Ben-Franklin do estado. Foi ali, conhecendo seus concorrentes e colocando em prática as compras diretas dos produtores e vendas por preços baixos, que exerceu seu aprendizado de comerciante. Vendo o sucesso da loja, em 1949, o proprietário que alugava o imóvel para os Waltons, pediu-a de volta.

A História da maior rede varejista do mundo começou a ser efetivamente traçada, quando os Waltons se mudaram para uma cidadezinha de hábitos caipiras no interior de Arkansas: Bentonville. Em 1951, o casal passou a administrar uma pequena loja de variedades e de baixo volume de nome WALTON'S 5 & 10. Entre 1951 e 1962, Sam observou vários outros tipos de negócios (concorrentes como K-Mart). O conceito da empresa K-Mart era simples: mercadorias de preços baixos com qualidade e com ênfase no auto-serviço. Isto levou Sam a considerar um novo tipo de conceito: as lojas de descontos. Em 1962, Sam abriu a primeira loja de descontos em Rogers no Arkansas com o nome de WAL-MART. A primeira loja vendia de tudo. Os anúncios nos jornais diziam que o Wal-Mart só vendia artigos de primeira qualidade.

Para conseguir cobrar menos que os concorrentes, Sam Walton baixou custos, cortou margens de lucro e reduziu drasticamente as despesas. A filosofia imposta por Sam Walton àqueles que chamava de seus "associados" - os funcionários - era bastante simples: não há preço baixo na loja sem custo baixo na empresa. Por isso, era preciso economizar cada centavo. Ele proibia despesas com material de escritório e até seus principais executivos eram orientados a usar canetas recebidas de brinde. Essa preocupação em economizar o máximo possível também se estendia à vida pessoal. Anos depois, apesar de ser um dos homens mais ricos do mundo, andava numa picape velha, com os pára-choques amassados. Promoveu uma revolução nos processos de logística em torno do seu negócio e soube usar a tecnologia de maneira eficiente para controlar os estoques e derrubar ainda mais os custos. Informatizou a empresa em 1966 e fez do Wal-Mart um modelo de eficiência e controle de inventários.

Na década de 70 a empresa já tinha 78 sócios, com um total de 32 lojas, cada uma representando uma combinação diferente de capital entre diversos investidores. A família Walton era a maior acionista, mas Sam e Helen estavam muito endividados. Para sair do endividamento resolveram transformar a Wal-Mart em sociedade anônima. O primeiro lote de 300.000 ações foi vendido em 1º de outubro de 1970, a US$ 16,50 cada, para cerca de 800 acionistas, arrecadando US$ 4.95 milhões. A estratégia para o crescimento acelerado, adotada daquele momento em diante, continuou seguindo a prática anterior. O foco de crescimento se manteve a partir das pequenas cidades.

Nos anos seguintes a empresa tem um ritmo de crescimento impressionante nos Estados Unidos, tornando-se, em 1990, a rede número um do mercado. Em 1991, iniciou sua expansão internacional com a inauguração de uma loja na Cidade do México. No ano seguinte entrou no mercado de Porto Rico e alcançou vendas superiores a US$ 1 bilhão em uma única semana. Depois da morte de Sam Walton, em 1992, os executivos souberam embarcar com sucesso nas duas maiores ondas que varreram o mundo dos negócios: a da globalização e a da tecnologia. Com isso a empresa prosseguiu fortemente no processo de internacionalização.

Embora adaptar sistemas aos diferentes países seja algo relativamente simples, o verdadeiro desafio do Wal-Mart é como exportar sua cultura para o resto do mundo. Sendo assim, a empresa procura avaliar as suas ações de acordo com a área de atuação, para evitar o colapso de identidade cultural e protesto de populações locais. Mesmo nos Estados Unidos, o Wal-Mart não consegue expandir para além do chamado cinturão da bíblia, formado basicamente pelos estados em que o presidente Bush venceu a eleição de 2004. Não há nenhuma loja em cidades cosmopolitas como Nova York. Na Inglaterra, houve imediata identidade cultural, tornando-se o Wal-Mart o segundo maior varejista do país. Em países como Canadá e México, o sucesso é inegável. Na Alemanha, entretanto, a empresa cometeu o erro de desprezar hábitos locais e apresentou, como conseqüência, sucessivos resultados desfavoráveis, ao menos até o ano de 2004.

O Wal-Mart chegou ao Brasil em 1995, com a abertura do SAM’S CLUB - uma espécie de clube de descontos onde o usuário precisa se tornar membro para poder comprar - em São Caetano do Sul, região metropolitana de São Paulo. Hoje a rede ocupa a terceira posição do Ranking ABRAS de supermercados e faz concorrência direta com o francês Carrefour e o Grupo Pão de Açúcar. São nove bandeiras em todo Brasil: Wal-Mart Supercenter, SAM'S CLUB, Todo Dia, Bompreço, Hiper Bompreço, Nacional, Mercadorama, Hipermercado Big e Maxxi Atacado.

Todo esse sucesso teve um preço: enquanto tenta expandir seus negócios a empresa sofre vários ataques. Duras críticas recaem sobre a política expansionista da rede. Um estudo da Universidade de Berkeley (Califórnia), realizado em novembro de 2005, mostra que os salários de funcionários do comércio caem de forma brusca no local onde o grupo abre suas lojas. Em termos econômicos, a crítica de especialistas é focada nessa questão: a expansão da rede favorece a concentração do varejo. A empresa cresceu e ampliou seu poder de barganha no mundo e isso levaria empresas menores à falência. Apesar da fama de empregador cruel, que paga salários aviltantes, discrimina mulheres e minorias, desdenha planos de saúde e combate ferozmente os sindicatos, as ferramentas mais fortes de que o Wal-Mart se utiliza para alcançar os objetivos na sua política corporativa interna são a meritocracia, isto é, convencer o empregado a se comprometer pessoalmente com as metas da empresa, evidentemente, oferecendo algo em troca e a participação no resultado da empresa, por meio da distribuição de ações a todos os empregados, fazendo com que o sucesso do negócio signifique, também, sucesso pessoal.

A força do Wal-Mart é umas das provas de como as grandes companhias se tornaram as organizações mais poderosas do planeta. Muitas delas têm hoje mais poder do que os partidos políticos, a Igreja e até mesmo os estados. Algo duro de contestar numa época em que as empresas globais faturam mais do que o produto interno bruto de muitos países: a receita anual do Wal-Mart é, de fato, maior do que o PIB da Áustria. Na tradição do american way, a história das grandes empresas se confundiu com a transformação de homens comuns em verdadeiros magnatas, como foi o caso do célebre Sam Walton.

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